sexta-feira, 13 de julho de 2012

Democracia direta

O texto abaixo foi escrito coletivamente:

A palavra democracia tem origem grega, é a junção das palavras demo (povo) e kracia (poder). Tendemos então a acreditar que em uma democracia o povo deve debater suas demandas e tomar as decisões através da participação coletiva quando os meios representativos deixam de atender seus interesses, conforme a Constituição Federal de 1988 deixa claro em parágrafo único, “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. As origens do estado democrático constituem assunto complexo e dispendioso, seria ousadia sintetizar em poucas palavras o processo inteiro, mas a ideia do artigo é apenas contextualizar o leitor.

O modelo de democracia representativa que conhecemos hoje se consolida no século XIX a partir da revolução dual (Revoluções Francesa e Industrial). Estes eventos levaram a burguesia ao poder, isto é, o que antes era a vontade do soberano que imperava sobre a coisa publica respaldado pelo direito divino, passa a ser exercida por representares burgueses e o interesse é, a partir daí, a proteção da propriedade e do empreendimento privado. Configura-se assim o quadro que vemos hoje, onde as estruturas governamentais atendem interesses corporativos e de oligarquias baseadas nas elites e não nas demandas da população.

 O sistema de democracia representativa no Brasil começa na República Velha (1889 – 1930), ainda sem um sufrágio universal, e de caráter basicamente elitista. Ao longo da história a democracia brasileira nunca mostrou ser estável, sempre sujeita a golpes, e seguidas ditaduras. Percebemos então que o Brasil conheceu tardiamente os conceitos democráticos e o povo em poucas oportunidades pôde exercer de fato sua soberania e direitos. Durante a ditadura militar que durou de 1964 até a 1985 o governo se autoproclamava democrático e dois partidos foram conservados no teatro da disputa de poder, o ARENA e o MDB. Com o fim do período militar estas legendas derivaram  para as atuais legendas de direita que são lideranças políticas até hoje nas casas ditas democráticas. A ditadura termina exatamente no período de consolidação de toda uma estrutura de comunicação de massa e formação de grupos de mídia corporativos controlados pelos mesmos antigos oligarcas e empresários gananciosos. Grosso modo, os velhos caciques continuam se alternando no poder enquanto controlam o fluxo de informação que formam a opinião pública. A população brasileira se vê - no período imediatamente posterior a ditadura - com seu senso crítico amarrado a uma estrutura que manipula a construção de referências envolvidas no processo de formação de identidades coletivas.

A quem atende o processo dito democrático que se instaura então no Brasil? As decisões tomadas pelos representantes - quase que via de regra - atende as corporações e ao interesse de elites que controlam as mesmas, ou tem um caráter populista através de pequenas concessões ao povo em claro interesse eleitoreiro. Vemos campanhas políticas ligadas mais a projetos de marketing do que projetos de governo.

Em nível global dobramos os joelhos para o direito divino, dobramos os joelhos para os imperadores, logo depois para os ditadores, e hoje dobramos os joelhos para uma coisa chamada mercado. Todas as relações humanas estão atravessadas por essa lógica. As guerras não são mais por territórios, mas por mercados, uma lógica de consumo ilimitado, mas com recursos limitados. Quando os grandes negócios passam a ser mais importantes que as leis, mensurando valor a vida, reduzindo o ser humano a estatísticas, dígitos binários em uma calculadora, é sinal de que a democracia representativa precisa ser revista e que o povo possa criar novas estruturas que passem a incluir o cidadão comum nas decisões que influem diretamente sobre sua vida. Tais estruturas não existem, e quando existem, não funcionam. E é nesse ponto que o entendimento de cada um sobre a relação entre realidade atual e o passado histórico é fundamental. Temos exemplos bem expressivos e atuais de mobilizações coletivas apartidárias e de grande potência transformadora nos movimentos de ocupação e contestação do sistema financeiro e da democracia representativa, que se tornam mais fortes em situações de crise onde os governos promovem pacotes de austeridade para reverter uma situação de crise, transferindo para o povo o endividamento de instituições financeiras e cortando orçamentos de serviços públicos para favorecer, mais uma vez, aquilo que é privado em detrimento daquilo que é público. O interesse social fica em segundo plano e os recursos são usados de forma irresponsável; a política representativa não mais representa os interesses dos cidadãos, se é que alguma vez já os representou. Vemos o estado-nação fazer às vezes de prostituta do capital.

O modelo neoliberal tem como protocolo a redução do Estado ao seu mínimo, em termos de custos e de intervenção no social. A existência do estado passa a priorizar apenas a circulação de mercadoria e capital. A carga tributária é, sem dúvidas, proporcionalmente mais onerosa ao cidadão comum que às corporações. Concomitantemente há um aumento da violência do Estado, que expressa em números significativos a criminalização da pobreza e dos já fragmentados movimentos sociais. No Brasil vemos exemplos dessa prática nas recentes remoções de comunidades para as Olimpíadas e Copa do Mundo, instalação de Unidades de Policia Pacificadora (UPP) em comunidades, mas que não vem casada com um projeto de empoderamento ou integração das mesmas a sociedade. Neste processo, qualquer expressão e hábitos culturais que fujam ao padrão “civilizado” são reprimidos pelos órgãos do estado com grande truculência. Outro exemplo é o aumento da população carcerária, que dobrou entre os anos 2000 e 2010, reforçando o argumento da criminalização da pobreza, já que a maior parte dos encarcerados são pobres e quase sempre negros.

Tendo em vista a atual conjuntura, concluímos que a democracia corre o risco de ser distorcida em seu conceito original por uma prática perversa que se apropria desse conceito, subvertendo-o para satisfazer interesses que não são do povo. Faz-se necessária a ação do povo para recuperar a importância da participação coletiva nos processos decisórios. Como vimos acima, nossa constituição garante o direito ao exercício direto da democracia, ou seja, temos poder de legislar, opinar e construir através de participação direta do povo numa nova democracia, atualizada sobre o espírito de nosso tempo. Temos aparato tecnológico e intelectual para tanto, basta que possamos costurar os processos a partir da participação de todos, local e globalmente. A democracia direta é a única forma de barrarmos este processo que caminha para extinção daquilo que é humano, daquilo que é vivo e do esgotamento dos recursos que deveríamos deixar para gerações futuras. Mas este é um campo de experimentações, não há formulas que garantam seu sucesso ou planos prontos. Mesmo que ainda não tenhamos descoberto o caminho que queremos seguir, sabemos exatamente o caminho que não devemos tomar. Essa é uma longa construção que só podemos fazer juntos e através da distribuição horizontal do poder. 

domingo, 16 de outubro de 2011

A Casa Caiu



Você se sente representado por algum partido político? Se sente satisfeito com a organização da sociedade? Você se sente gozando de seus plenos direitos de cidadão? Você sabe o que é ser de fato um cidadão? Você compreende a teoria econômica capitalista? Você compreende o sistema de previdência pública, entende sua relação com o salário mínimo? Você também se revolta quando abre o facebook, o twitter, o Orkut e vê fotos de crianças subnutridas morrendo de fome? Alguma vez você já passou fome? Consegue imaginar sua vida sem o uso do papel-moeda? Consegue conceber uma sociedade que não leve em consideração o uso do capital nos meios de produção de nossa própria subsistência? Você acredita que vive numa democracia?


Talvez você já tenha feito muitos desses questionamentos acima. Talvez já tenha pensado em soluções para muitos deles. Muitos indivíduos espalhados pelo globo também têm tido constantemente esses e muitos outros questionamentos. Neste momento, pessoas comuns estão indo às ruas em várias partes do mundo para registrar a sua indignação, sua revolta e sua decepção com o sistema capitalista, com a democracia representativa e indireta, com os partidos políticos que representam os interesses de organizações que só visam o lucro e não representam os interesses do cidadão. Isso não é democracia. Desde a Grécia antiga se tem a noção de que a democracia e a política são exercidas todos os dias pelos cidadãos. O exercício da democracia deve ser feito entre os populares para debater e resolver os problemas comuns dos semelhantes. Não à toa vivemos em uma comunidade em que os problemas e os bens deveriam ser comuns e, no entanto, parece que o cidadão de hoje continua a se aproximar do servo da antiga Grécia, ligado ao capital como o servo era ligado à terra, fadado a servir nela e para ela até o fim dos seus dias. Será que você tem exercido o seu direito de cidadão?, ou será que tem se aproximado mais da realidade do servo?


O movimento que se alastrou do mundo Árabe para as praças da Europa e para as ruas de Londres e que está ocupando Wall Street demorou, mas finalmente chegou à América Latina. No Chile, as pessoas já tomam as ruas, ocupando os centros financeiros e levantando acampamento; no Rio de Janeiro a Cinelândia será inteiramente ocupada neste próximo sábado, dia 22 de Outubro, às 14 horas – alinhando, assim, a América do Sul a este movimento global que não tem patrono, liderança ou partido político. Trata-se de um movimento de insatisfação, apenas, sem maiores planejamentos ou uma resolução. Um movimento de expressão com objetivo de requerer o direito de cidadania. Nós não somos socialistas ou anarquistas, somos apenas pessoas com inúmeras diferenças ideológicas, mas unidos pela insatisfação com o sistema capitalista; um sintoma de que o sistema atual está doente.


A grande mídia tem tratado o movimento de diferentes formas ao redor do globo: no Marrocos os manifestantes foram reprimidos com violência pela polícia local; a mídia noticiou que se tratava de uma manifestação pelo direito dos gays. Na Itália, mais violência, mais desinformação. No Rio de Janeiro o movimento foi taxado pelas grandes emissoras como um manifesto contra a corrupção – mais uma mentira. A corrupção nada mais é do que um dos sintomas do câncer que representa esse sistema baseado no capital – um sistema que trata o ser humano como estatística, que coloca o dinheiro e o lucro à frente da vida humana e que se limita a duas formas de enxergar o homem: com funcionário ou cliente. O que é o certo, afinal, combater o sintoma ou curar a doença?


O movimento é inteiramente pacífico, não prega a violência e sim a ocupação de locais onde se tenha visibilidade, isto é, os grandes centros financeiros das grandes metrópoles. As únicas armas que carregamos são nossos cartazes, nossas ideias e nossas palavras. Se você também não se sente confortável sendo apenas uma estatística nos números de uma multinacional, se você é MUITO MAIS do que um cliente ou um funcionário, participe você também desse movimento. Saia às ruas, porque as ruas são do povo... É preciso fazer barulho na fenda do muro, é preciso fazer brotar uma nova consciência. É preciso derrubar as fronteiras, desorganizar para reorganizar de forma justa e humana, pois só através da desordem é que se alcança o progresso. Saia às ruas, porque o mundo vai mudar!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Crítica ao Rock in Rio

Sobre o Rock in Rio que está rolando eu só posso responder assim:

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Portishead


Depois de um longo hiato, estou de volta ao Blasfêmias & Injúrias. Não há coincidência entre o fato de que estou desempregado e o post de hoje. Falarei sobre o "Portishead". 

Essa sensacional banda britânica de Trip-hop se formou, inusitadamente, numa fila de agência de empregos na cidade de Bristol, em 1991, quando Beth Gibbons - que até então cantava em pubs - e o Dj e produtor Geoff Barrow se uniram para iniciar o projeto. Posteriormente, o guitarrista de jazz Adrian Utley veio a consolidar o trio de vez.
.
Usando de samplers, batidas eletrônicas, e belos timbres de guitarra, aliados a voz envolvente de Gibbons, o Portishead traz uma sonoridade singular, e carregada de sensualidade. Percebe-se, nitidamente, a forte influência do jazz nas composições do trio, e em alguns casos como na canção "Western Eyes", uma mãozinha Jobiniana.

O trio lançou 3 discos de estúdio: "Dummy" (1994), "Portishead" (1997), e "Third" (2008). Também vale muito a pena conferir o disco e o vídeo ao vivo, chamado "Roseland NYC Live" (1998), este trazendo musicas dos dois primeiros discos, com belíssimos arranjos para cordas, executadas junto a Filarmônica de Nova York. Sem dúvidas, um álbum indispensável para os fãs da banda.

Espero que gostem. Portishead é o som perfeito para namorar ou, simplesmente, olhar pela janela enquanto gotas de chuva caem do céu.










segunda-feira, 19 de julho de 2010

Genesis

O Genesis é uma banda que eu divido em dois momentos: Com Peter Gabriel e sem Peter Gabriel. São dois momentos distintos em termos de concepção das músicas e de performance. Com Peter Gabriel a frente dos vocais o grande atrativo da banda eram as suas apresentações ao vivo. Gabriel além de cantar, tocar flauta e percursão, interpretava a obra como uma grande peça teatral. Trocas de figurino rápidas aconteciam com grande frequencia no palco. A banda que o acompanhava era formada por nada menos que Steve Hackett (guitarra), Tony Banks (teclado e guitarra), Mike Rutherford (baixo e guitarra) e pra fechar, Phill Collins (bateria), esse ainda com bastante cabelo. Sinceramente, essa não foi a unica formação do Genesis e nem mesmo foi a primeira, mas pra mim é a formação mais clássica, essa base ia lançar os 3 discos que eu mais gosto da banda: "Foxtrot", "Sellin England By The Pound" e "The Lamb Lies Down On Broadway" (todos da primeira metade da década de 1970)
Nessa época os melhores shows do Genesis aconteceram em teatros, que de fato era o local mais apropriado para o tipo de espetáculo que a banda sugeria.

Com a saída de Peter Gabriel, Phill Collins assumiria os vocais iniciando assim uma mutação na forma do Genesis compor as músicas e principalmente interpreta-las no palco. O grande apelo das radios e a necessidade de entrar no mercado norte-americano encurtaria o tempo das músicas do grupo além de dar uma cara mais world e menos britânica aos seus temas. No palco as coisa mudaram e adequaram o espetáculo a realidade do fim dos anos 70 e inicio dos anos 80, além da formação da banda passar a ser de trio, tocando com bateristas diferentes a cada turnê.

Os vídeos que separei são da fase Peter Gabriel, mas sempre vale a pena procurar material da fase posterior.









terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia Mundial do Rock!

Nada melhor do que retornar a ativa concomitando com o dia mundial do rock. Sinceramente, eu não entendo muito o motivo do dia ser hoje mas ta valendo.
Para comemorar a data eu separei algumas coisas desse estilo que tem milhões, bilhões, zilhões de derivações. Se nós ficarmos aqui delimitando o que é e o que não é rock fica complicado. Acho que o rock pode estar além da melodia, peso das notas, timbre e arranjo, muitas vezes o rock está na atitude, na postura e na estética tanto quanto ou mais do que na música em sí. O importante é que no fundo vem todos do mesmo lugar, do bom e velho Rock and Roll.
Em tempos onde o "rock" é vendido, é de bom tom lembrar que a "atitude rock n' roll" esta na ousadia em transpor limites e regras, rock é exatamente o contrário do que se faz hoje com essa palavra tão boa de dizer. O "gênero rock" atualmente é mais vantajoso a quem o comercializa do que quem o faz (leia-se faz como quem toca, compõe, produz, masteriza...). Lembrem-se, rock acima de tudo é uma imensa sede de justiça e igualdade.



























quarta-feira, 9 de junho de 2010

Avante Brasil!

É, a primeira copa do mundo em solo Africano está aí e nada de posts durante o mega evento que ocorre apenas de 4 em 4 anos. Dou maior valor a copa do mundo, acho que daqui a 5000 anos, quando os escafandristas de uma civilização mais avançada que a nossa vasculharem a cidades submersas da America do Sul vão descobrir que se a gente desse canto do planeta nunca obteve sucesso em muita coisa enquanto povo, pelo menos em ganhar torneios mundiais de futebol nós fomos os melhores. Só nós, brasileiros, ganhamos 5 taças, uma foi roubada e derretida (pra variar um pouco). Nossos hermanos catimbeiros somam 4 mundiais, 2 da Argentina mais 2 do Uruguai. Contabilizando, a América do Sul levou 9 taças, ao passo que os paises europeus, se somados, levam um número igual de mundiais, mesmo com seus 9.999 paises. Pois bem, os ingredientes de uma grande copa do mundo estão ai e ninguém quer perder essa. Está decretado:
- Parei pra ver a copa!

Alguns vão dizer:
- Ah, o Brasil pára pra ver a copa do mundo enquanto os politicos tão metendo a mão em Brasília.

Olha, sinceramente, eu acho que eles já metem a mão no dinheiro alheio o ano todo, 24 horas por dia, cada vez que eu pago algum imposto, cada vez que eu ligo a tv, cada vez que pago juros bancários, a todo momento eu estou sendo roubado, trabalhamos muito, ganhamos pouco e pelo menos, queremos ganhar a copa do mundo. E tem mais, acho que até os politicos dão uma parada na roubalheira pra assistir a copa.

Se você não está nesse espírito de copa, é melhor entrar nele logo, pois não tem pra onde correr. Tem gente que comprou vuvuzela e tudo, só espero que o seu vizinho não seja um deles.
Se em 1970 éramos 90 milhões em ação, hoje, somos 190 milhões em tensão, diante das escolhas do Dunga. No meu ver, ele levou realmente os mais preparados, só acho que tinha uma vaguinha ali pro Roberto Carlos na esquerda e pro Ganso no banco, mas agora já era. Espero que Dunga use bem o material humano que levou a África, nos resta torcer.

Para que todos possam se imbuir desse espirito futebolistico, lá vai mais uma do DWT. Uma homenagem a maravilhosa seleção campeã do mundo de 1970.